sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Alergias evolutivas

As alergias incomodam muita gente. Incluindo eu própria. Incomodam até mais do que o criacionismo. No entanto investigadores têm tentado descobrir uma possível vantagem evolutiva para as reacções alérgicas. Relembrando as minhas aulas de imunologia, uma hipótese foi proposta com base no envolvimento das IgE (sistema imunitário adaptativo) tanto na defesa contra parasitas intestinais, como na reacção alérgica, a qual afirma que as IgE evoluíram para nos proteger dos parasitas e as alergias eram um efeito colateral dessa evolução. Mas há mais: num um artigo publicado em Abril de 2012 na revista Nature, Medzhitov e os seus colegas argumentam que as alergias surgiram para nos proteger de substâncias potencialmente tóxicas no meio ambiente ou em alimentos. Por outras palavras, não são apenas uma desorientação do sistema imune. O investigador explica: "Como é que alguém se defende contra algo que inala que não quer? Faz muco. Faz o nariz escorrer, espirra, tosse. Ou se é na pele, induz a sensação de comichão, para ser removido, arranhando". Da mesma forma, se ingerir algo prejudicial, o corpo pode reagir com vómitos.
Entre as evidências Medzhitov cita um estudo de 2006 publicado na revista Science, que relatou que as células-chave envolvidas em respostas alérgicas degradam e desintoxicam o veneno de cobra e de abelha. E um estudo de 2010 publicadono Journal of Clinical Investigation sugere que reacções alérgicas às secreções da carraça evitam as pragas de fixação e alimentação.
Esta pode coexistir sem problemas com a ressuscitada hipótese higiénica, que sugere que as pessoas que se deparam com uma série de bactérias e vírus no início da vida investem mais recursos do sistema imunológico em respostas do tipo I.
Para quem é alérgico, isto são boas notícias: nem tudo é mau nas alergias e não somos assim tão disfuncionais.  
Mas como evoluíram as moléculas do sistema imunitário adaptativo? O sistema imunitário adaptativo, em mamíferos, que está centrado nos linfócitos receptores de antigénios que são gerados por recombinação somática, surgiu há aproximadamente
500 milhões de anos em peixes da família Opistognathidae. Acredita-se que tenham contribuído para a génese do sistema imunitário adaptativo: o surgimento do gene (transposão) de activação da recombinação (RAG), e duas fases de duplicação do genoma inteiro, numa época próxima da altura da origem dos vertebrados. Foi recentemente descoberto que algo semelhante, incluindo duas linhagens de células linfóides, surgiu em peixes sem mandíbula por evolução convergente.
Em termos de pressões selectivas, uma hipótese que enfatiza a importância do intestino sugere que, com o advento das maxilas, material digerido poderia ferir o intestino e, portanto, resultar em infecções maciças. O sistema imunitário surgiu então como sistema de defesa e tornou-se mais importante e mais sofisticado, com o surgimento de predadores vertebrados maiores com mandíbula que tinham poucos descendentes.

Refs.:




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